Paulo Franke

26 setembro, 2010

4 - O que restou do GUETO de Varsóvia (2a parte)


No dia seguinte, continuei minha caminhada ao que ainda me faltava ver do que restou do Gueto de Varsóvia. Novamente, dia bastante nublado e ameaçador e pés doloridos do dia anterior, tanto o dia quanto os pés compatíveis com a minha peregrinação.



E assim passei pelo Monumento aos Heróis do Gueto, que foi inaugurado quando tudo ao redor ainda eram ruínas, para comemorar os cinco anos da insurreição do Gueto (que durou algumas semanas). Um moderno e grande edifício está sendo construído em frente ao Monumento que será o Museu da História dos Judeus Poloneses.



No local há um poster com fotos do que foi a vida no Gueto. Exatamente diante do Monumento, onde param dezenas de ônibus de turismo, encontrei uma excursão de brasileiros de Belém-PA. Um momento de confraternizacão com gente nossa também interessada no Holocausto e em sua mensagem "Nunca Mais!", conforme conversei com alguns deles.



O general nazista Jurgen Strop, responsável pela liquidação do Gueto de Varsóvia, decidiu que demolindo a grande sinagoga, construída em 1875-78, seria o símbolo de sua vitória, o que de fato aconteceu no dia 16 de maio de 1943, às 20h15.

Na foto, a Sinagoga Nozyk...



...construída nos anos 1898-1912 e que durante a guerra foi utilizada como estábulo. Hoje é não somente um lugar de prática religiosa, mas também um importante Centro Cultural Judaico.



Não entrei na sinagoga, mas encontrei diversos judeus ortodoxos nas proximidades e com um deles conversei. Conversa rápida, mas de profundo significado. No final, um deles deu uma batida no meu ombro, que considerei um grande gesto de carinho. Cada judeu que encontrei considerei um símbolo da derrota nazista, o mesmo sentimento de visitar sinagogas ou centro culturais judaicos ou o grande Monumento ao Holocausto em Berlim, vizinho ao Portão de Brandemburgo, onde os nazistas faziam suas grandes paradas em homenagem ao Terceiro Reich, que "duraria 1000 anos".



No prédio onde funciona o Teatro Judaico, fotografei esta placa dourada onde fica a Associação "Crianças do Holocausto" na Polônia. Quantas dessas crianças, hoje pessoas idosas, não terão sido salvas por Irene Sendler (ver link)? Um almoço em um clube judaico nas proximidades reunia a comunidade para a comemoração de um evento especial.



Outra foto que mostra que o Gueto ficava na hoje próspera e moderna Polônia. A foto acima e as seguintes são de duas famosas esquinas de prédios preservados desde aquela época, de fato, os únicos prédios preservados do Gueto.



As fotos são de moradores...



... da época.



Foram expulsos de...



... seus próprios lares ou então compartilharam-no com dezenas de outras pessoas.



É um dos poucos fragmentos da "Varsóvia Judaica"...



... nos quais o clima do velho quarteirão judaico é reavivado em um festival anual.



O lugar principal em que milhares de judeus do Gueto eram reunidos para partirem para o Campo de Extermínio de Treblinka, cerca de 90km de Varsóvia (veja postagem ainda em construção, adiante).



Homens ficavam à esquerda e mulheres e crianças à direita.



Hoje, no exato lugar na Stawki Street 10, ergue-se o monumento que lembra em seu estilo um vagão ferroviário.


"Ao longo deste caminho de sofrimento e morte, cerca de 300.000 judeus foram conduzidos em 1942-1943 desde o Gueto de Varsóvia até as câmaras de gas dos campos de extermínio nazistas."




Na absoluta impossibilidade de serem inscritos nomes verdadeiros das pessoas que embarcaram para a morte,



... nomes representativos, masculinos e femininos, de A a Z, foram registrados nas paredes do monumento.


E ali encontrei o nome Pawel, que significa Paulo em polonês. Não procurei os nomes judaicos de meus filhos; seria aumentar a emoção.



Neste lugar onde fica o Radisson Hotel, de uma rede de hotéis de luxo da Europa, na Rua Grzybowska, situava-se a residência de Adam Czerniaków, presidente da Comunidade Judaica (Judenrat), que ali cometeu suicídio em 23 de julho de 1942. O papa João Paulo II tem uma grande avenida com seu nome.

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Conhecida foto de membros da Resistência sendo levados para a morte.
Muitos, no entanto, cometeram suicídio antes de serem encontrados nos dias finais do Gueto.
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Abaixo, recortes amarelados de uma revista antiga, com texto de Gerald Reitlinger, que guardo comigo há muitos anos, antes mesmo de ter lido o "Mila 18", de Leon Uris.

























































A última foto do artigo, à direita, mostra o que restou do Gueto de Varsóvia, somente ficando de pé pouquíssimos prédios e a Igreja de Santo Agostinho.
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L i n k s

Trailers de filmes recentes sobre o Gueto de Varsóvia:

"O Pianista", do diretor judeu-polonês Roman Polanski:
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Uprising (Levante ) Desconheço o título em português.
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"The courageous heart of Irena Sendler"
(O corajoso coração de Irena Sendler)
Veja no "Índice de todos os meus tópicos" uma postagem
homenageando essa heroína que salvou 2.500 crianças do Gueto.

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No Museu do Holocausto Yad-Vashem em Jerusalém, o maior monumento é o que homenageia os que morreram no Gueto de Varsóvia (fotografado parcialmente):

http://paulofranke.blogspot.com/2010/05/iv-israel-yad-vashemsepultura-oskar.html

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Próxima postagem:
Visita à Cracóvia/Krakow

4 Comments:

  • Amigo, tens muito o que falar e mostrar ainda! E gostei de ver que sabes que colocar as mãos nos leva a sentir e ver o sentimento real e verdadeiro! Sua emoção fica muito aflorada! É um abraço de Deus nos mostrando os nossos defeitos e falhas em ver e deixar que coisas como estas aconteçam!
    Os filmes são bons, não conheço um deles, mas de certo alguém o assistiu e o comentará!
    Mais uma vez parabéns!
    "Nunca Mais"
    Grande abraço

    By Blogger Maria Thereza Freire, at segunda-feira, setembro 27, 2010 10:35:00 PM  

  • Sei que judeus ortodoxos recusam-se a sequer tocar um não-judeu, assim considerei um gesto de bondade e reconhecimento por ter-lhe dito que amava o seu povo. Nenhuma "prática religiosa", a não ser um gesto humano e solidário.
    Sei também que "há toques e há toques", os quais devemos discernir espiritualmente...
    Meu amor pelos judeus deriva-se da admiracão por seu espírito tenaz e também tem a ver com a palavra misericórdia, que literalmente significa "ver a miséria alheia com o coração", no caso para com os judeus vítimas do Holocausto e os ainda afetados por ele.

    By Blogger paulofranke, at terça-feira, setembro 28, 2010 7:55:00 AM  

  • História Fantástica! Ah, se eu tivesse tido o privilégio de ter lhe conhecido quando ainda na ativa, minhas aulas seriam muito mais enriquecidas! Fiquei a observá-lo quanto ao informativo de seu nome Pawel de origem polonesa... A ilustração riquíssima de arquivos capazes de nos conduzir a reviver os acontecimentos principalmente quando observamos os jornais...
    Viu, como nada é por acaso? Muito tempo depois você consegue dar sequência e vida aos trabalhos de Leon Uris...
    Quanta emoção você sentiu ao tocar naqueles tijolos sombrios, que contém tantos mistérios!!! Sem dúvida é uma história verídica, estagnada, mas palpável até por que não á flor da pele para quem se interessar! Maravilhoso, de uma grandeza finita! Muitos apalausos pela pessoa que é!!! Um grande Abraço.

    DEOLINDA

    By Blogger paulofranke, at terça-feira, setembro 28, 2010 8:11:00 AM  

  • Ola..
    Acho que compreendi melhor, rs. O Gueto da Varsóvia servia como um abrigo para judeus que iriam ser levados para os campos de exterminios nazistas, isso?
    São tantos lugares marcados pelo Holocausto que por vezes chego a me confundir com a história, infeliz história por sinal.
    Gostei das postagens, são realmentes boas e interessantes de serem lidas, hehe.
    Abraço !

    By Blogger João Guilherme, at quarta-feira, setembro 29, 2010 6:41:00 AM  

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